O futuro é motivo de especulação, ansiedade e antecipação para maioria de nós. Estamos constantemente empregando tempo e esforço em reflexões sobre o que vem a seguir, e qual a novidade que está espreitando nas esquinas do amanhã afim de permear nossa rotina, seja ela pessoal ou profissional.

E não é para menos, afinal estamos sempre em mudança como indivíduos e como sociedade, procurando formas de evoluir e otimizar os nossos processos. E é exatamente essa busca constante por aprimoramento que nos permite sobreviver e nos adaptar as adversidades, bem como crescer em conhecimento e recursos.

Um exemplo prático está na pandemia de COVID-19, que assolou o mundo recentemente. Apesar do caráter extremamente ameaçador da doença e dos grandes desafios criados no nosso dia-a-dia, conseguimos superar tais empecilhos e a partir deles desenvolver novas formas de interagir social e profissionalmente.

Este acontecimento pandêmico funcionou como um ponto de transformação, que evidenciou soluções inesperadas para problemas antes insolúveis, e trouxe uma mudança coletiva de comportamento para sociedade, remodelando prioridades, interesses e desafios.

Desde então, como uma reação em cadeia, estamos experimentando uma constante de grandes novidades, que buscam atender as novas necessidades de um público ainda em transformação.

Logo, para se adequar a esta nova era econômica e preparar seu posicionamento no mercado, as empresas estão implementando cada vez mais tendências do mundo profissional em seus processos diários de trabalho, afim de aumentar sua produtividade e atrair talentos.

Recentemente uma dessas tendências tem ganhado espaço em discussões e levantado uma série de questionamentos entre profissionais de diversas áreas, a redução da jornada de trabalho para 4 dias na semana, e é sobre ela que falaremos a seguir.

 

Só 4 dias de trabalho na semana!

A proposta desse novo modelo empregatício é bastante auto explicativa e se trata exatamente de uma redução dos dias trabalhados na semana, ou seja, as horas trabalhadas caem de 40 para 32 horas e de 5 para 4 dias, resultando em uma jornada de trabalho semanal com somente 4 dias úteis.

Embora o conceito seja simples e óbvio, é a partir dele que surgem as dúvidas, como por exemplo, se esse projeto inclui redução salarial, se ele conta com um mesmo volume de demandas para um período menor de tempo, e por fim, qual a finalidade da proposta.

Para esclarecer essas e outras dúvidas, e deixar você, profissional, por dentro desse debate, vamos falar um pouco de como surgiu essa ideia.

Embora tenha ganhado mais destaque recentemente, a semana de 4 dias de trabalho já é uma tendência em pauta há bastante tempo. Organizações não-governamentais e agências focadas em melhorias e bem-estar para os colaboradores já debateram muito sobre o tema, procurando uma certificação da eficácia do método.

No entanto, foi apenas com a pandemia do COVID-19 que o assunto realmente entrou em evidência. Pois, foi exatamente durante o período de isolamento causado por este evento pandêmico, que se aprofundaram as reflexões sobre a dinâmica de trabalho dentro das empresas, trazendo à tona questionamentos muito importantes. Dentre eles, a correlação entre produtividade e o número de horas trabalhadas.

Este questionamento foi o principal motivador da proposta de redução da jornada de trabalho semanal.

O empresário e filantropo Andrew Barnes, em seu Ted Talk intitulado “The 4 Day Week”, fala sobre produtividade, e sugere que o número de horas realmente produtivas de um trabalhador é bem inferior as jornadas de trabalho atuais. Portanto, reduzir o número de dias trabalhados em troca de maior foco e produtividade seria uma ótima abordagem, inclusive sob o ponto de vista das empresas contratantes, segundo ele.

Barnes é o fundador da Perpetual Guardian, uma empresa neozelandesa do ramo de gestão patrimonial. Em 2018, a empresa lançou um projeto piloto com o objetivo de implementar a semana de 4 dias. E, contrariando o ceticismo de muitos empreendedores que acreditam que o movimento representaria uma queda de resultados para as empresas, o projeto tem sido um sucesso desde então. Porém, a Nova Zelândia não foi o único país a aderir à semana de 4 dias.

 

De Tendência a Realidade

Embora seja um projeto recente, diversas empresas em diferentes países do mundo vêm adotando a ideia da jornada de 4 dias de trabalho, e os principais são, em sua maioria, países europeus. Lugares como a Dinamarca, a França, a Espanha e o Reino Unido estão entre os primeiros a adotarem e validarem o modelo de encurtamento da semana.

Na Islândia, por exemplo, entre 2015 e 2019, foi realizado um teste com 2.500 trabalhadores, onde a jornada de trabalho foi reduzida de 40 horas semanais para 35 ou 36 horas dependendo do cargo. Nesse caso, não houve mudança na remuneração e foram feitos estudos pela Associação de Sustentabilidade e Democracia (Alda) e pelo think tank britânico Autonomy que levaram os sindicatos a negociarem para que a redução das horas trabalhadas fosse permanente após o término do experimento. Segundo as fontes citadas, atualmente, 85% dos trabalhadores tiveram suas jornadas de trabalho reduzidas para 4 dias por semana.

Em outro exemplo, afim de elevar a qualidade de vida, a Bélgica anunciou que seus trabalhadores podem solicitar uma diminuição da sua jornada de trabalho para 4 dias na semana como um teste de seis meses, e se os resultados forem positivos, podem permanecer com a jornada encurtada posteriormente ou retornarem a carga horária original.

Já a Escócia aderiu à semana de quatro dias e seus trabalhadores terão suas horas reduzidas em 20%, sem sofrer nenhuma perda em compensação.

Na Espanha, o governo espanhol concordou com uma carga horária semanal de 32 horas, ao longo de três anos, sem corte na remuneração, como um teste para medir o impacto da medida no rendimento profissional dos trabalhadores do país.

Além de todo sucesso de adesão na Europa, a semana de 4 dias cruzou as fronteiras. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, começaram 2022 como a primeira nação do mundo a estabelecer a semana de 4 dias e meio em escala institucional. Ou seja, as entidades governamentais e até o banco central aderiram essa nova realidade, e vão operar em uma jornada semanal de quatro dias e meio, com o fim de semana começando ao meio dia da sexta-feira até o domingo.

Por fim, nos Estados Unidos, o deputado democrata Mark Takano fez um projeto de lei que reduziria a jornada habitual de 40 horas semanais para 32 horas.

Surfando esta mesma onda de novidades e afim de experimentar a aplicação do método, muitas empresas privadas também escolheram implementar a nova modalidade, além da Perpetual Guardian. Como a também neozelandesa Unilever e a rede de fast food norte-americana, Shake Shack, que em 2020, iniciaram um experimento de redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais, afim de atestar a funcionalidade do projeto.

Caminhando na mesma direção, a gigante tecnológica japonesa, Panasonic anunciou a oferta da jornada de trabalho de 4 dias para funcionários interessados. E, ainda no Japão, a Microsoft conduziu um experimento da semana de 4 dias em 2019 que resultou em um aumento de 40% na produtividade dos funcionários contemplados.

Além delas, por aqui mesmo, no Brasil, algumas empresas estão experimentando implementar o final de semana prolongado para os seus profissionais, sendo elas, a Zee.Dog, que adotou o modelo em março de 2020, a Crawly, startup mineira especializada em análise de dados, que opera com três dias de folga para seus funcionários desde sua fundação, em 2018, e a martech Winnin, conclui por meio de uma pesquisa com seus próprios funcionários, que sextar antes da hora aumentou em 17% o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a atenção ao bem estar físico e à saúde mental subiu em 50%.

Em resumo, a redução dessa jornada semanal e a disseminação desse conceito já está rodando o mundo, e tem conquistado muitos apoiadores para a causa que defende, apresentando dados consideráveis de melhora. Mas será que isso é o suficiente para mudar definitivamente a configuração das nossas semanas?

Afinal de contas ainda estamos em uma fase inicial de aplicação feita de muitos testes e experimentos.

 

Considerando todos os ângulos

É importante lembrar que cada país teve a sua própria história até o desenvolvimento de seus direitos trabalhistas e que a rotina de 8 horas de trabalho e 5 dias por semana é um padrão desde o início do século XX, que veio para acabar com as jornadas abusivas de 16 horas diárias de trabalho.

Logo, hoje, após um século desde que essas medidas entraram em vigor, devemos nos perguntar, estamos trabalhando demais ou esse é um ciclo natural de querer sempre um pouco mais de tempo de lazer?

Um estudo recente na Nova Zelândia mostrou que nem sempre a semana de trabalho de 4 dias significa mais tempo pessoal para os funcionários, ao apontar um aumentou significativo no stress dos profissionais, uma vez que as cobranças e demandas continuavam iguais, só que ainda mais concentradas e, consequentemente, recheadas de pressão. Segundo os pesquisadores neozelandeses, reduzir a carga horária precisa vir junto com uma mudança no esquema de trabalho como um todo e na quantidade de entregas que cada trabalhador tem.

 

Uma alternativa para sanar este desafio seria aumentar o expediente diário, no entanto, essa mudança só seria possível com uma nova legislação e, no momento, os projetos em tramitação no Congresso brasileiro para redução da jornada de trabalho estão longe de chegar à conclusão.

Ainda vale a pena deixar claro que, na proposta original da redução de 5 para 4 dias na jornada profissional não implica em uma renegociação salarial. O que se propõe ao trabalhar 4 dias na semana, é a diminuição das horas trabalhadas pelo mesmo valor. Ponto este que desagrada profundamente alguns empregadores.

Fora estes empecilhos, alguns profissionais de RH levantaram um questionamento interessante dentro dessa nova modalidade, sobre a veracidade da aplicação prática dessa redução para todos os cargos ser realmente possível. Pois, seria no mínimo injusto que dentro de uma empresa, por exemplo, apenas alguns funcionários pudessem adotar este modelo de trabalho, enquanto outros estivessem presos a carga horária anterior, com base nas funções desempenhadas pelos mesmos.

Tendo em vista essas considerações contrárias, precisamos ser cautelosos ao ponderar o uso dessa nova tendência, mas também, não podemos ignorar os benefícios observáveis do projeto.

A economia de recursos em ter um escritório funcionando menos dias no mês é um dos incentivos para as empresas. Em um teste feito em 2019, a Microsoft Japão concluiu que gastos administrativos, como o uso de papel e energia, diminuíram drasticamente quando os funcionários tinham três dias de folga, além de que os funcionários estavam 40% mais produtivos.

Já pesquisas conduzidas pela 4 Day Week Global apontam que 63% dos empregadores acham mais fácil a atração e retenção de talentos com a proposta da semana de 4 dias, e 78% dos funcionários ficam mais felizes e menos estressados trabalhando sob este regime de jornada reduzida.

Em resumo, existe um grande volume de dados e pesquisas que permitem uma observação minuciosa dos efeitos desse projeto a serem analisados.

Será que a semana de 4 dias vai pegar?

Apenas o tempo irá dizer sobre a sua funcionalidade e se teremos aí um novo modelo de semana nas nossas rotinas profissionais.

Tendo em perspectiva que a ideia desse método é reter talentos, combater os problemas de saúde mental que se multiplicam no ambiente corporativo pós-pandêmico e formar equipes mais eficientes, sabemos que é algo focado no bem estar e que visa impulsionar a qualidade de vida dos profissionais no mercado, porém sem deixar de lado os interesses econômicos das empresas. Ou seja, a intenção é boa, mas é preciso medir a aplicabilidade, pois ainda existem muitos detalhes práticos e culturais a serem alterados no ambiente corporativo para garantir um sucesso real na implementação geral, com verdadeiros frutos positivos, desta proposta. Enquanto isso, seguimos acompanhando as evoluções desse processo.

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